domingo, 31 de julho de 2011

Toda nação tem o governo que merece

Aforismo político enunciado pelo escritor direitista Conde Joseph Marie de Maistre, grande opositor da revolução Francesa, em que via "um caráter satânico". Consta de uma carta desse aristocrata e homem de letras francês, endereçada de São Petersburgo, onde exercia então o cargo de embaixador de Victor Emmanuel I junto ao governo czarista, a um amigo, nomeado apenas como o "cavaleiro de ..." e que consta do volume "Lettres et Opuscules Inédits", volume I. Tal frase tem sido muitas vezes falsamente atribuída a Voltaire, pessoa a quem Joseph de Maistre detestava, tendo dito dele que "se Paris o coroava, Sodoma o teria banido". A forma original é: Toute nation a le gouvernement qu'elle mérite.

Nota

Aforismo: Ditado, provérbio.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Uma das mãos lava a outra

Velho provérbio, que é também dito com esta forma: Uma das mãos lava a outra e ambas lavam o rosto. Adverte que, sem ajuda mútua, muitas coisas não poderão ser realizadas, ao passo que, se um indivíduo juntar seus esforços aos de outro, ambos se beneficiarão. O jurista e estadista austríaco, Joseph Unger, escreveu a respeito deste provérbio: Wie oft wascht nicht eine Hand die andere und beide bleiden schmützig (Muitas vezes uma das mãos não lava a outra e ambas se emporcalham). Morais, no seu dicionário, registra expressão semelhante: Faz-me a barba, far-te-ei o cabelo, dando esta definição: Farei um serviço por outro que me fizeres.  Os franceses têm locução proverbial aproximada: Un barbier rase l'autre (Um barabeiro escanhoa o outro), anterior, sem dúvida, ao uso generalizado da gilete. Em inglês, é corrente, com o mesmo sentido, este provérbio:  Scratch my back, and I'll scratch yours (Coça as minhas costas que eu coçarei as tuas).

Escanhoar: fazer a barba.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Parte do leão

Ficar com a parte do leão é ficar com tudo, é despojar os sócios com recursos ilícitos e intimidações. Nasce a expressão de uma fábula clássica, de que há versões em Esopo e Fedro e que foi renovada por La Fontaine. O leão convidara três outros animais para caçar (a bezerra, a cabra e a ovelha, na versão de La Fontaine), com a combinação de dividir depois os despojos. Graças ao esforço comum, um veado foi morto, sendo então repartido conforme o número de caçadores. O leão então falou, tomando para si a primeira peça: "Está é a minha, e a razão é que eu me chamo leão. Quanto a isso ninguém tem o que objetar. A segunda me cabe ainda por direito: o direito do mais forte. Como o mais valente, é que eu reclamo a terceira. A quarta se algum de vós a tocar, será estrangulado". Na versão de Esopo, os animais são apenas três. Morto o veado, o leão mata também o asno, dizendo à raposa que é para que eles fiquem com pedaços maiores. A raposa, finória, diz que não seria necessário, porque está com muito fastio. Come apenas uns bocados insignificantes e se vai, deixando tudo ao leão. Dessas fábulas é oriunda a expressão: Contrato Leonino.

Nota


Esopo: é um legendário autor grego, que teria vivido na antiguidade, ao qual se atribui a paternidade da fábula como gênero literário. Esopo teria sido um escravo, que foi libertado pelo seu dono, que ficou encantado com suas fábulas. As fábulas de Esopo serviram como base para recriações de outros escritores ao longo dos séculos como Fedro e La Fontaine.

Fedro: foi um fabulista romano nascido na Macedônia, Grécia, filho de escravos, provavelmente foi alforriado pelo imperador romano Augusto. Seu nome completo era Caio Júlio Fedro.

Jean de La Fontaine: foi um poeta e fabulista francês. Era filho de um inspetor de águas e florestas, e nasceu na pequena localidade de Château-Thierry. Estudou teologia e direito em Paris, mas seu maior interesse sempre foi a literatura.


Finória: sagaz, esperta.
Fastio: falta de apetite (neste contexto).




segunda-feira, 18 de julho de 2011

Não ter papas na língua

É o mesmo que falar franco, ou ser desbocado. A origem dessa locução é castelhana. Dizia-se, a princípio: No tiene pepitas en la lengua (Não tem prevides na língua). Segundo João Ribeiro, a palavra pepitas foi com o tempo adulterada, transformando-se em papitas, diminutivo de papas, donde a locução ter passado a significar: Não ter batatas na boca, ou ter a boca desimpedida. Na comédia de França Junior "Direito por Linhas Tortas", justifica-se Leonarda, personagem de palavra solta: "A minha linguagem sempre foi esta. O senhor sabe perfeitamente que eu nunca tive papas na língua. Além disso estou em minha casa, e posso dizer o que bem me parecer".

domingo, 17 de julho de 2011

À Bessa

O mesmo que abundantemente, com fartura, de maneira copiosa. A origem do dito é atribuída às qualidades de argumentador do jurista alagoano Gumercindo Bessa, advogado dos acreanos que não queriam que o território do Acre fosse incorporado ao Estado do Amazonas. Rui Barbosa, que se demitira do cargo de ministro plenipotenciário, quando da negociação do tratado de Petrópolis, por se opor às diretrizes de Rio Branco, aceitara a advogar a causa do Amazonas e chegara, inclusive, não só a propor ação judicial, mais ainda a apresentar ao Senado Federal projeto que mandava incorporar o Acre àquele estado. O advogado contrário, Gumercindo Bessa, apresentara argumentos tão esmagadores e tão numerosos em favor dos acreanos , que logo se tornou figura  respeitada nos meios forenses. Conta-se que certa vez um cidadão procurou o Presidente Rodrigues Alves para pleitear determinados favores e com tal eloquência expôs suas ideias que o ilustre estadista teria observado: "O senhor tem argumento à Bessa". Com o tempo, a maiúscula de Bessa desapareceu. Entre os autores que registram essa origem da popular expressão se destacam Rodrigues de Carvalho, na "Revista Nova", nº 6, de abril de 1932, e Aires da Mata Machado Filho, no livro "Escrever Certo", 1ª série.

Nota
Plenipotenciário: que tem plenos poderes.
Pleitear: 1. Defender, sustentar em discussão. 2. Participar de concurso. 3. Tentar conseguir alguma coisa por meio de argumento.

sábado, 16 de julho de 2011

Até debaixo d'água

Esta expressão, de início, significava até sob as condições mais adversas. Depois adquiriu outro sentido, passando também a significar com fartura, em número elevado, com grande abundância. Popularizou-se a partir de 1913, pois constituía a tradução da divisa da nossa flotilha de submarinos, adotada, em latim, no ano anterior: Usque ad sub acquam nauta sum, significava que aqueles homens eram marinheiros até debaixo d'água. Um homem bravo, valente, decidido, era a partir de então homem até debaixo d'água. Do mesmo modo, uma moça de muitos encantos era bonita até debaixo d'água. Foi empregada com o segundo sentido por Antônio de Alcântara Machado no conto "O Patriota Washington", que faz parte do livro "Laranja da China": "Amanhã não haverá mais leprosos no Brasil. Por enquanto ainda há, mas isso de ter morfeia não é privilégio brasileiro. Não pensem não. O mundo inteiro tem. A argentina então nem se fala. Morfético até debaixo d'água".

Nota:
Morfeia: Hanseníase.
Morfético: Que, o aquele que tem morfeia, hanseníase.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Roupa suja lava-se em casa

Este provérbio indica que as disputas entre membros de uma família devem ser solucionadas sem escândalo público e sem transcender os círculos familiares, de modo que os vizinhos ou estranhos não tomem conhecimento de seus segredos, dificuldades ou mal entendidos. É comum esse provérbio em língua inglesa com esta forma: Wash your dirty linen at home. E em língua francesa: Il faut laver le linge sale en famille. Seria este, aliás, um provérbio constantemente repetido por Napoleão Bonaparte a seus irmãos e irmãs. Balzac, em "Eugênia Grandet", atribui a invenção do dito a Napoleão, mas já vinha citado no volume VIII das "Memórias" de Casanova, como coisa comum no século XVIII.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Cada macaco no seu galho

É o mesmo que dizer: Cada homem na sua função, ou no ofício que lhe compete, ou para o qual está capacitado, sem interferir nas responsabilidades dos outros e sem perturbar o trabalho alheio. Os franceses dizem o mesmo, por outras palavras: Chacun à sa place (Cada qual em seu lugar) e: Chacun son métier (Cada qual em seu ofício). Outra forma proverbial francesa é: Chacun son mértier, les vaches seront bien gardées (Cada qual em seu ofício, as vacas serão bem guardadas, isto é, os pastores farão o que lhes compete). Os espanhóis têm estas: Bien está San Pedro em Roma e: Cada cual a su oficio. No fundo, tudo isso quer significar exatamente o mesmo que: Cada macaco no seu galho. Há outras locuções inglesas aproximadas, como, por exemplo: Every man to his station (Cada homem em seu lugar) e: Every man to his trade (Cada homem em sua profissão, ou negócio).