quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Lágrimas de crocodilo

Esta locução, que é muito antiga, tem tido aplicação literária frequente. Entende-se por lágrimas de crocodilo qualquer manifestação de hipocrisia e de insincero pesar. Segundo Plínio o Antigo, os crocodilos das margens do Nilo choravam e faziam ruidosas manifestações de desespero, tal como as pessoas enlutadas, tudo isso para despertar a piedade e a atenção dos passantes, que iam ver do que se tratava e eram devorados. A lenda tem algo parecido com a do canto das sereias, de que fala Homero. Shakespeare faz uma alusão às lágrimas de crocodilo na cena I do quarto ato de "Otelo", quando fala o mouro de Veneza, invectivando Desdêmona: "O devil, o devil, if the earth could teem with woman's tears, each drop she falls would prove a crocodile" ( Ó demônio, ó demônio, se a terra estivesse cheia de lágrimas femininas, cada gota que tombasse comprovaria um crocodilo). E Francis Bacon, o filósofo e estadista inglês, nos seus "Ensaios": "It is the wisdom of crocodiles, that she tears when they would devour" (Essa é a sabedoria dos crocodilos, que derramam lágrimas quando vão devorar). La Fontaine, numa poesia, escreveu sobre as mulheres: " Larmes de crocodile, yeux lascifs, doux langage, soupirs, souris flatteurs, tout est mis usage quand il s'agit d'attaquer un amant" (Lágrimas de crocodilo, olhos lascivos, doces palavras, suspiros, sorrisos lisonjeiros, tudo é posto em uso, quando se trata de cativar um amante).

Nota

Invectivando: insultando, ofendendo, provocando, ultrajando.

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