terça-feira, 20 de novembro de 2012

Perder a cabeça

Não saber mais o que fazer, cometer loucuras ou imprudências. Com  o mesmo sentido, dizem os franceses: Perdre la tête e os ingleses Lose the head. Carlos de Leat tentou impugnar esta locução num romance de Camilo Castelo Branco, acusando-a de galicista. Defendeu-se o escritor português nos "Ecos humorísticos do Minho", fascículo terceiro, por esta forma: "Dizemos perder o juízo, o tino, a razão. Por que não diremos perde a cabeça, se, neste caso, cabeça é sinônimo de juízo, tino, e razão? O Padre Antonio Vieira (tomo XV, página 182) disse: "Homem de tanta cabeça" como quem diz: "Homem de tanto juízo ou talento". E, adiante: "Nós dizemos frequentemente perder os passos, perder a coragem, perder o caminho. Não o digamos, pois, porque os franceses dizem: Perdre courage, e perdre ses pas, perdre son chemin. Estas niquices do Sr. Leat em matéria de linguagem denunciam o ranço filológico de 1820; são rabugices fradescas do monge Tibães, que, se vingassem, a língua portuguesa ficaria em Frei Luís de Sousa".

Nota

Galicista: Pessoa que usa galicismos (estrangeirismo, especialmente palavras de origem francesa).

Niquices: Que se torna impertinente com minúcias aborrecidas.

Fradesco: Que diz respeito a frades ou conventos, monásticos.

Mosteiro Tibães: O primitivo convento de Tibães foi provavelmente fundado por S. Martinho de Dume, durante o reinado do monarca suevo Teodomiro, no século VI. Sabe-se, todavia, que existia já no tempo da invasão árabe e pode mesmo supor-se que o Mosteiro de Tibães fosse um dos que prosseguiu a sua atividade religiosa mediante certos tributos pagos ao povo conquistador. Foi sede da Ordem de São Bento e em 1480 começou a ser erigida pelos árabes. No reinado de D. João III, na época Frei António de Sá era o abade dos Tibães que começaram  novas reparações e construções. Nos finais do século XVI, os beneditinos demoliram o edifício, para em seu lugar erguer um outro, de estilo magnificente e barroco.



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