sábado, 10 de setembro de 2011

Entornar o caldo

Complicar as coisas, estragar uma situação com um ato desastrado ou intempestivo. Antigamente, dizia-se entornar o carro, ou seja, virar o carro, como mostram estes versos do poeta português Sá de Miranda: "Quem nunca ouviu um rifão, mais corrente e mais usado, que é darem todos de mão, quantos vêm e quantos vão, ao carro que está entornado". João Ribeiro mostra que a aproximação entre caldo e carro veio de outro modismo peninsular, mexer o caldo. Deturpações desse gênero são muito frequentes. Rui Brabosa, usando a expressão num discurso parlamentar, assim fala dos boateiros e difamadores: "Nas horas caniculares  das grandes crises, quando a consciência popular se dilata na receptividade das grandes sedes, passam eles timbaleando o trem de vivandeira, com a tigela de sopas de alho para cada aberração do paladar. Mas, a um piparote da verdade, há de entornar-se-lhes o caldo". (12-01-1892).

Nota


Caniculares: quentes.
Vivandeira: mulher que vende ou leva mantimentos, seguindo tropas em marcha.
Piparote: peteleco.


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